domingo, 20 de maio de 2018

Sumário

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Introdução

I - Muitas Perguntas 
II - A Natureza da Doença Mental
III - Tratamento
IV - Conclusões Finais

Apêndice

Comportamento Criminoso

O crente reconhece que todo comportamento criminoso é o resultado da atividade do que as Escrituras chamam de "a carne" -- aquele velho "eu" pecaminoso que é parte de nós como filhos de uma raça caída. Novamente, é tudo uma questão de graus, pois o que distingue a atividade criminosa de outros pecados é a transgressão de uma lei conhecida. Como vimos anteriormente, as Escrituras usam a palavra "iniquidade" para descrever o pecado, e essa palavra verdadeiramente significa "ilegalidade", ou a ação de uma vontade independente. Como tal, o pecado é aquilo que é feito sem referência a Deus, e assim as Escrituras nos dizem que "a lavoura dos ímpios é pecado" (Provérbios 21:4). Não que o ato de lavrar seja em si mesmo pecado, mas sim o fato de que o homem o faz independente de qualquer consideração sobre sua responsabilidade perante Deus. No entanto, Deus instituiu e reconhece o governo na Terra, e governos estabelecem leis de modo a regular a sociedade e reduzir o mau comportamento. 

Em alguns indivíduos com doença mental severa, a atividade criminosa ocorre -- o que não apenas é anormal, como também causa sérios danos. Em distúrbios de personalidade sérios, particularmente a assim chamada personalidade antissocial, há aqueles que são, às vezes, chamados de "psicopatas". Esses indivíduos possuem tanto traços de personalidade anormal severa quanto um marcante desvio de comportamento, ainda que muitas vezes pareçam muito normais e totalmente no controle da situação. Eles são geralmente espertos, charmosos e capazes de manipular bem os outros, enquanto por baixo eles permanecem totalmente egocêntricos, cruéis e aparentemente sem sentimentos ou remorso. Eles também são caracterizados pela impulsividade, uma necessidade por excitação, uma falta de responsabilidade, e uma tendência a enganar e mentir com frequência. Deixados a si mesmos, tais indivíduos muitas vezes acabam vivendo uma vida de crime de um tipo ou de outro, cobrindo todo o espectro de coisas desde fraude e peculato até violência, roubo e assassinato a sangue frio.

Tudo isso tem suas raízes no pecado que afetou o indivíduo de uma forma muito severa, agravado em muitos casos por uma educação e uma sociedade que agora não consegue controlar as manifestações exteriores disso. No passado, os efeitos da vida familiar estável, a disciplina firme e os princípios cristãos na sociedade tendiam a controlar tais comportamentos, ao menos em grande medida, mas as duas últimas décadas têm testemunhado um tamanho declínio moral nos países ocidentais que tem havido um marcante aumento de crimes sérios. Mais que isso, tais crimes estão sendo cometidos por crianças em idade cada vez mais jovem, e estamos vendo crianças com menos de dez anos que parecem capazes do tipo de violência estúpida que antes era vista apenas em criminosos adultos endurecidos. Estamos entristecidos com tudo isso, mas não deveríamos estar surpresos, pois quando o homem deixa Deus de lado, Deus pode deixar o homem para que experimente o efeito total do que ele escolheu.

Para piorar o problema, há o fascínio público por tal comportamento, pois o mal é naturalmente atraente para o nosso "eu" pecaminoso. Um artigo de jornal descreveu isso da seguinte forma: 
"Da malícia leve à criminalidade cruel, a realização de más ações é algo que o resto da população evidentemente deseja conhecer. Esta é uma forma de explicar o porquê do psicopata, a personificação do mal sem remorso, ter tal lugar estabelecido na consciência pública. Somos todos psicopatas debaixo da pele."*
{* Weber, Bruce, Cozying Up to the Psychopath That Lurks Deep Within. (New York Times, February 10, 1991).} 

Tal indivíduo e nossa resposta a ele/ela evidencia tanto o efeito da queda em nós como criaturas de Adão quanto o pecado voluntário. Sem dúvida, o psicopata é geneticamente predisposto à sua estrutura ruim de personalidade, mas então sua vontade toma essa tendência e a permite agir em pecado aberto. Alguns diriam que esses indivíduos nasceram sem uma consciência, uma vez que eles parecem não sentir remorso por seus atos terríveis. Isto não é verdade, pois o homem adquiriu uma consciência (o conhecimento do bem e do mal) quando Adão e Eva comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal. A verdadeira raiz do problema é encontrada no Salmo 53:1: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus". A consciência do homem precisa de luz para funcionar adequadamente, e se Deus e Suas reivindicações são rejeitadas, então o homem se comporta como se não houvesse Deus. Outra pessoa comentou mais habilmente sobre esse versículo:
"O segredo desse curso [do homem] é antigo também... todo o caminho do ímpio vem disso. Para ele não há Deus. A fé não existe, e Deus não é visto. Esse é o segredo de todo o erro na prática e no raciocínio humano. Quanto mais examinamos todo o curso da ação humana, as falhas de nós cristãos, os vários devaneios da filosofia, mais descobriremos que a negação de Deus está na raiz de tudo. Aqui temos o caso em que a consciência não percebe Deus. O coração não tem desejo por Ele, e a vontade funciona como se não houvesse ninguém. O homem assim diz (que não há Deus) em seu coração. Por que ele diria isso? Porque sua consciência lhe diz que, sim, existe. Sua vontade não quer que Ele exista; e, como Deus não é visto em Seus trabalhos, a vontade vê apenas o que quer. Deus é posto de lado, e toda a conduta está sob a influência da vontade, como se Deus não existisse"*
{* Darby, J. N., Practical Reflections on the Psalms. (Bible Truth Publishers, Addison, IL, 1978), pg. 136 }

A crescente tolerância e até admiração de outros por alguns desses traços tem, de fato, sérias implicações, e veríamos o ápice disso se o Senhor nos deixasse aqui por um pouco mais de tempo. Enquanto a personalidade e comportamento dos assim chamados psicopatas possa ser extrema, devemos nos lembrar das solenes palavras das Escrituras: "Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem" (Provérbios 27:19). O artigo do jornal se expressou bem quando comentou que todos somos psicopatas debaixo da pele. Os "tempos trabalhosos (perigosos)" mencionados em 2 Timóteo 3 e nos quais estamos agora vivendo, sem dúvida, verão uma prevalência crescente de tais comportamentos pecaminosos, e culminarão na completa anarquia após a Igreja ser chamada para o lar.

Embora possamos deplorar essas horríveis exibições do "eu" pecaminoso do homem que estamos testemunhando hoje, lembremo-nos que, como o escritor citado acima diz, o segredo de todo o erro em nós, mesmo como crentes, é o fato de pensarmos e agirmos independentemente de Deus. Que possamos ser mantidos perto daquEle que não apenas nos fez, como também enviou Seu Filho, "o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau" (Gálatas 1:4). Fomos moralmente libertos disso; logo seremos fisicamente libertos disso, na vinda do Senhor. "Ora vem, Senhor Jesus" (Apocalipse 22:20).

Possessões Demoníacas

Foi Satanás (disfarçado de serpente) que primeiramente mentiu para Eva e a tentou a desobedecer a Deus ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Aprendemos de outras passagens que Satanás já foi, uma vez, um dos anjos de Deus, mas que se rebelou contra Deus, desejando ter um lugar que não lhe pertencia. Outros anjos evidentemente se rebelaram juntamente com ele, de modo que agora há milhares de demônios que constituem as hostes de Satanás. Eles estão constantemente buscando frustrar os propósitos de Deus e frequentemente o fazem vivendo em homens e mulheres, influenciando suas mentes e corpos de uma maneira ruim. Às vezes essa influência maligna envolve a tomada de controle da alma e do espírito humano (e finalmente do corpo) e a produção de sintomas de doença mental.

Há vários exemplos disso nas Escrituras. Em Mateus 17:14-21, temos a história de um garoto que foi possuído por um demônio, e que, como resultado, foi descrito por seu pai como "lunático e [que] sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água". Quando o Senhor Jesus expulsou o demônio, a criança foi curada. Em Marcos 5:1-20 lemos a história de um homem que estava possuído por demônios, e que vivia entre as tumbas, nu, gritando e se cortando com pedras. Quando Jesus expulsou os demônios, ele apareceu "vestido e em perfeito juízo" (Marcos 5:15).

Houve muitos outros relatos de testemunhas oculares que contam daqueles que agiram de modos muito anormais, evidentemente por causa da influência de demônios que os possuíram e perturbaram. Muitas vezes as alucinações e comportamento bizarro exibidos por essas pessoas é atribuído a outras causas, até que a verdadeira natureza do problema é reconhecida. Pessoas em países africanos e asiáticos sabem bem como feitiços e macumbas podem afetar não apenas o corpo, como também a mente das pessoas. Um psiquiatra americano, que trabalhou no Zimbábue por um ano, relata o seguinte, no que diz respeito a um paciente que ele foi chamado a tratar (o termo "irmã" refere-se simplesmente a uma enfermeira):
"'Você consegue entender o que ela está dizendo, Irmã?' 
"'Sim, algumas coisas', respondeu a Irmã Chimhenga. 'Amai está dizendo que sua bisavó, Ambuya Zezuru, está falando com ela, e a possuindo. Ela é chamada por Ambuya para sofrer por seus pecados.' 
"Eu sabia o que a palavra Shona 'ambuya' significava, e que 'amai' significava 'mãe' ou 'patroa', mas eu não tinha entendido todo o significado cultural da interpretação da Irmã. 'Irmã, me desculpe, mas o que isso tudo significa?' 
"'Significa que Amai acredita estar enfeitiçada por sua bisavó, que pode ter sido uma profetiza em seu tempo. Um espírito ancestral importante.' 
"'Um feitiço?' 
"'Poderia ser', disse ela, pausando. 'A família dela deve ter pensado assim'"*
{* Linde, Paul R., Of Spirits and Madness. (New York, McGraw-Hill, 2002), pg. 105}

Infelizmente, enquanto grande parte do mundo definha em cativeiro nas mãos de tais forças malignas, muitas pessoas nos países ocidentais negam a existência de Satanás. O poder de Satanás está aumentando em países antes considerados cristãos, à medida que Deus e Suas reivindicações estão sendo cada vez mais deixadas de lado. Considere o seguinte incidente que ocorreu na prática de um médico cristão que eu conheço bem:
"Há cerca de seis anos atrás, eu estava entrevistando uma mulher em um quarto de hospital. Ela estava seriamente deprimida e não respondia aos remédios. Enquanto eu lhe fazia perguntas sobre seus pensamentos, ela de repente desenvolveu um olhar 'vidrado', e eu logo soube que ela não podia mais me ouvir. Ela parecia estar congelada em seus próprios pensamentos enquanto fixava o olhar para o nada. Momentos depois, ela falou com uma voz mecânica e antinatural: 'Deixe ela em paz; ela é nossa!' 
"Não foi necessário muito discernimento para perceber que eu não estava mais falando com minha paciente e que uma força maligna e sobrenatural tinha empurrado ela para o lado para me intimidar diretamente."*
{* Mullen, Grant, M.D., Emotionally Free. (Chosen Books, Grand Rapids, MI, 2003), pg. 103, 109 }

Como o médico já tinha percebido nesse caso, os remédios usuais para tratar a depressão não estavam surtindo efeito naquela mulher. Uma força maior do que ela mesma tinha tomado posse dela, e apenas pelo expulsar do demônio ela poderia ser curada. Às vezes, aqueles sob poder demoníaco ouvirão vozes ou verão coisas irreais, e ocasionalmente é difícil saber, ao menos no início, se o indivíduo está sofrendo de uma doença psicótica ou se está experimentando um ataque demoníaco. Às vezes, profissionais que não são crentes não reconhecerão o que está acontecendo e colocarão o paciente sob medicação a princípio, apenas para descobrirem que ela não vai funcionar de forma previsível.

Desde o tempo em que o mundo rejeitou o Senhor Jesus Cristo, as Escrituras chamam Satanás tanto de deus como de príncipe deste mundo (Veja 2 Coríntios 4:4 e João 14:30). Ele é o deus deste mundo religiosamente e seu príncipe politicamente. Ele sabe que é um adversário derrotado, mas neste tempo da graça de Deus, ele continua sendo o "príncipe das potestades do ar" (Efésios 2:2), realizando a sua obra maligna. Ele pode habitar em um incrédulo, assumindo o controle de sua pessoa e o forçando a fazer o que quer que o espírito maligno comande. Embora ele não possa habitar em verdadeiros crentes (porque são habitados pelo Espírito de Deus), ele pode e consegue perturbá-los, especialmente aqueles que podem ter se envolvido com práticas ocultas antes de serem salvos. Ler livros pecaminosos (tais como os pornográficos) ou ocultos, ou assistir a entretenimentos que contenham temas malignos, pode abrir a porta para esses ataques demoníacos. Além disso, envolver-se deliberadamente em práticas ocultas (tais como usar tabuleiros Ouija, cantar chamadas ao mundo espiritual, envolver-se com adivinhos, etc.) pode convidar esses espíritos malignos para nossas vidas.

O único remédio para a possessão demoníaca é a autoridade do Senhor Jesus que pode comandar que um demônio saia da pessoa. O Senhor Jesus fez isso várias vezes durante seu ministério na Terra, e certamente os apóstolos também o fizeram. O Senhor Jesus tornou esse poder disponível a todos os crentes, através de Seu nome. Antes de subir de volta para o céu, o Senhor Jesus disse: "E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios" (Marcos 16:17). Agora é possível que demônios sejam expulsos daqueles afligidos por eles por causa do poder no nome do Senhor Jesus. A seguinte história real mostra como isto aconteceu no caso de uma mulher possuída por demônios:
"A senhora K... veio me ver para falar de uma depressão de longa data. Ela estava muito vaga e nervosa durante a primeira parte da entrevista. Após alguns minutos de conversa fiada e questões preliminares ela me disse: 'Estou com dificuldade em te ouvir pois há três pessoas falando comigo continuamente em minha mente.' Bem, essa era uma experiência nova para mim. Ela claramente não era esquizofrênica, então eu sabia que não se tratava de uma doença psicótica fazendo-a ouvir vozes. Ela estava totalmente sã, embora deprimida. 
"Eu não sabia muito bem o que fazer, mas eu me perguntei se ela estaria tendo uma daquelas experiências ocultas que eu tinha passado tantas horas perguntando sobre. Essa interferência tornaria a entrevista muito difícil, então eu fiz uma pausa e fiz algumas notas simples em sua ficha para comprar tempo. Em meu coração eu disse a Deus: 'Eu não sei o que está acontecendo aqui. Se essa mulher está ouvindo espíritos malignos, em nome de Jesus, por favor, cale-os para que eu possa terminar esta entrevista' .
"Quando, então, eu levantei meus olhos das anotações, ela olhava para mim com uma intensidade que eu não tinha visto nela antes e disse: 'O que você acabou de fazer?' Eu expliquei que eu tinha apenas anotado sua última fala na ficha. Ela não se contentou com essa resposta e persistiu: 'Não, você fez mais alguma coisa.' Eu estava confuso naquele momento e novamente afirmei que eu só estava escrevendo em sua ficha, e perguntei o que a fazia pensar que eu teria feito qualquer outra coisa. Sua resposta mudou o curso da minha vida espiritual e profissional quando ela afirmou: 'Você fez algo, pois as vozes pararam pela primeira vez em vinte anos. Elas estão agora se escondendo, e estão com medo de você. O que você fez?'... 
"Minha mente de repente se abriu para o fato de que sim, de fato, ela estava sã e estava sendo atormentada por vozes de demônios. Eles pararam de falar com ela porque quando eu orei a autoridade de Cristo encheu a sala e eles ficaram com medo..."*
{* Mullen, Grant, M.D., Emotionally Free. (Chosen Books, Grand Rapids, MI, 2003), pg. 90-91 }

É importante reconhecer o poder demoníaco como uma causa muito real de doença mental, não apenas em tais casos óbvios como o que acabamos de citar, mas também em outras manifestações tais como em padrões de pensamento malignamente distorcidos, insônia, pesadelos e ataques de pânico. Como a Palavra de Deus é abandonada e os valores e princípios cristãos são cada vez mais ignorados, acredito que estamos vendo um aumento na atividade de Satanás em países onde seu poder era anteriormente restringido em grande parte pela luz do Cristianismo.

Para o crente, o melhor antídoto para tais ataques de Satanás é uma vida vivida em comunhão com o Senhor. Os efésios tinham sido pesadamente envolvidos em práticas ocultas antes de ouvirem o evangelho, mas após terem sido salvos foi registrado em Atos 19:19 que "muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos". Em sua epístola a esses mesmos crentes alguns anos depois, Paulo pôde dizer-lhes: "E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as" (Efésios 5:11). Aos colossenses ele pôde dizer: "Ao Pai... o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor" (Colossenses 1:12,13). O crente foi libertado do poder de Satanás, mas se ele persiste em viver uma vida mundana e se ocupa com comportamentos pecaminosos, ele novamente se coloca em uma posição na qual Satanás o pode perturbar. Lembremo-nos que fomos libertos do reino maligno de Satanás, e que somos agora chamados a "andarmos como filhos da luz" (Efésios 5:8). Se obedecermos a essa exortação, não daremos a Satanás a oportunidade de ganhar influência sobre nós.

A Vontade

Já vimos que a vontade está conectada ao "eu" consciente -- a parte de nós que está acima do espírito, alma e corpo, e que definitivamente é capaz de influenciar e controlar todos os três. A vontade foi afetada pelo pecado, tanto que o homem caído agora tem vontade de fazer o mal. Assim Deus pôde dizer, no que diz respeito à humanidade nos tempos de Noé: "Toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente" (Gênesis 6:5). De fato, todo o exercício da vontade do homem é errado em si mesmo, pois, como criatura, a responsabilidade do homem é a de obedecer.

A palavra usada para o pecado e a iniquidade nas Escrituras pode realmente ser traduzida como "desobediência" ou "ilegalidade", simplesmente significando o exercício de uma vontade independente. Uma vontade independente está sempre errada, mesmo quando estiver fazendo coisas que possam não ser erradas em si mesmas. Mas essa vontade sempre vai querer fazer o mal, por causa da natureza pecaminosa do homem. O crente possui uma nova vida em Cristo, uma nova natureza que deseja agradar a Deus. Assim em 1 Pedro 4:2 lemos que "as concupiscências dos homens" contrastam com "a vontade de Deus".

Pelo fato da vontade ser afetada por nosso ego pecaminoso, "a carne", como nos dizem as Escrituras, vemos que a mente também é afetada. Colossenses 2:18 fala de alguém que está "debalde (em vão) inchado na sua carnal compreensão (mente)", enquanto Romanos 8:7 nos lembra que "a inclinação (mente) da carne é inimizade contra Deus". Paulo pôde falar sobre como eram os efésios antes de serem salvos: "fazendo a vontade da carne e dos pensamentos (mente)" (Efésios 2:3). A mente foi feita serva de nossa natureza pecaminosa, e Satanás usa as cobiças malignas do homem para induzi-lo a cometer pecado.

A Carne

Outro termo que precisamos definir é o que as Escrituras chamam de "carne". A palavra é usada de várias maneiras na Palavra de Deus. Às vezes é usada simplesmente para indicar o corpo como algo distinto da alma e espírito, como por exemplo em 1 Coríntios 15:50, onde nós é dito: "A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus". A palavra pode também ser usada para descrever a natureza humana em geral -- o homem em todo o seu ser. Referindo-se à encarnação, lemos que "Deus se manifestou em carne" (1 Timóteo 3:16), e certamente isto implica mais do que simplesmente o fato de que o Senhor Jesus tomou um corpo. Ele teve uma alma e espírito humano (sem pecado), pois Ele foi um homem em todo o sentido da palavra. Do mesmo modo, quando Pedro e os outros caíram no sono no jardim de Getsêmani, o Senhor pôde dizer: "O espírito está pronto (disposto), mas a carne é fraca" (Mateus 26:41). O "eu" consciente de Pedro desejava seguir o Senhor, mas ele não percebeu a fraqueza de sua carne natural. Todo o seu ser natural estava envolvido nessa fraqueza, e não apenas seu corpo. Mas a palavra é também usada para descrever aquele ego pecaminoso que o homem adquiriu quando caiu -- a natureza pecaminosa do homem que não pode fazer nada além de pecar. Assim lemos em Romanos 7:18: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Paulo pôde dizer aos gálatas: "Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção" (Gálatas 6:8). William Kelly faz os seguintes comentários no que concerne ao termo "a carne":
"Eu emprego a expressão 'natureza humana' de forma abstrata para a humanidade, sem questionar o estado em que foi originalmente criada ou no qual rapidamente caiu. Nesse sentido a palavra 'carne' é às vezes usada  nas Escrituras simplesmente para se referir à natureza do homem, como em: "E o Verbo se fez carne" (João 1:14), "Deus se manifestou em carne" (1 Timóteo 3:16), Jesus foi "mortificado, na verdade, na carne" (1 Pedro 3:18), "Jesus Cristo veio em carne" (1 João 4:2,3, etc.), etc. O sentido doutrinal especial do termo, ao caracterizar a condição moral da raça, particularmente nas Epístolas de Paulo, aponta para o princípio da vontade própria no coração"*

{* Kelly, William, Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 173-4 }

O Intelecto

O intelecto pode também ser visto como parte da mente, como sendo aquilo que o homem usa para raciocinar, e que o capacita a usar conhecimentos adquiridos para fazer deduções. Em um outro sentido, é também parte do cérebro, naquilo que está ligado à capacidade de aprender, e então de usar o que foi aprendido. Assim, um intelecto pode ter habilidades em diferentes vertentes, pois uma pessoa pode ser boa em matemática e outra pode ser excelente em escrita criativa. É importante reconhecer que o intelecto nunca pode descobrir qualquer coisa no que diz respeito às coisas divinas: ele pode deduzir conclusões corretas, mas jamais pode ir além disso. O homem, quanto a sua mente e intelecto, é sempre um descobridor, nunca um criador. Ele pode usar seu intelecto para raciocinar com conhecimento e assim chegar a conclusões corretas, mas o próprio conhecimento é sempre o produto do testemunho ou da experiência.

A Mente

A mente é aquela que pensa, percebe e raciocina. De acordo com as Escrituras, temos algum controle sobre ela, pois elas nos instruem a "termos nossa mente nas coisas que estão acima, e não nas coisas que estão na terra" (Colossenses 3:2, tradução de J. N. Darby). Meu coração (como morada da afeição) vai atrás das coisas que são importantes para mim, mas eu possuo a capacidade de colocar minha mente em algo como um ato de minha vontade. Assim, minha vontade, enquanto em um sentido faça parte da minha mente, também a controla e direciona de diferentes formas. Assim o homem em Romanos 7:25 diz: "Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado". Aqui sua mente deseja fazer o que é certo, mas sua carne, seu velho ego pecaminoso, só consegue pecar. No incrédulo, sua mente é influenciada e está definitivamente sob o controle de sua carne, seu ego pecaminoso, e Satanás usa isso para manipular sua mente de um modo maligno. Assim lemos sobre Nabucodonosor cujo "coração se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba" (Daniel 5:20). Romanos 12:2 fala da "renovação do vosso entendimento (mente)" como um resultado da mente estar sob o controle do Espírito de Deus em vez de estar sob o controle de Satanás e da carne.