quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Natureza do Homem

(Ao considerar a doença mental, é útil ter um entendimento do homem e sua natureza, como nos é dado na Palavra de Deus. No entanto, uma vez que o homem é um ser complexo, alguns leitores podem achar o assunto complicado e os conceitos difíceis de entender. Por esse motivo, uma seção sobre o assunto será encontrada no Apêndice. No entanto, essa parte pode ser lida neste ponto se o leitor assim desejar.)

A Doença Mental na Bíblia

A loucura ou insanidade é mencionada várias vezes nas Escrituras, mostrando-nos que tais coisas eram presentes e bem reconhecidas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Já vimos como a palavra "lunático" é usada no Novo Testamento para descrever aqueles que eram afligidos por pensamento e comportamento desordenado. Há muitas outras referências, no entanto, na Palavra de Deus. Nos versículos a seguir a palavra "louco" significa um padrão de pensamento e ação sem motivo ou juízo.

Em Deuteronômio 28:34, Israel foi informado que eles "enlouqueceriam com o que veriam com os seus olhos" quando vissem os terríveis juízos que Deus traria sobre eles por sua desobediência. A palavra aqui tem o pensamento de delirar através da insanidade, claramente provocada por circunstâncias adversas.

Então, em 1 Samuel 21:13-15, Davi se fingiu de louco para que Aquis, rei de Gate, pensasse que ele estava insano e não o matasse. Obviamente o ardil funcionou, pois Aquis claramente considerou que Davi estivesse louco e fora de si.

Em Eclesiastes 7:7 lemos que "a opressão faria endoidecer até ao sábio", enquanto em Oseias 9:7 lemos: "o profeta é um insensato, o homem de espírito é um louco; por causa da abundância da tua iniquidade".

Em Daniel 4:1-37, Nabucodonosor conta a sua nação como Deus o humilhou com uma doença mental severa por sete anos até que ele aprendeu uma lição muito importante, a saber, que "o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre ele" (Daniel 4:17).

Em Atos 26:24, Festo acusou Paulo de louco. A palavra aqui tem o pensamento de "mania", ou loucura. Paulo respondeu que não estava louco, mas sim que estava falando as palavras da verdade e de um são juízo. Novamente, em 1 Coríntios 14:23, Paulo diz que se incrédulos viessem à assembleia quando os crentes estivessem falando em línguas, eles pensariam que estavam loucos, ou delirantes como maníacos.

Essas referências nos mostram que a insanidade era claramente reconhecida por milhares de anos. Às vezes era trazida pelas circunstâncias, às vezes por possessão demoníaca, e às vezes pelo Próprio Deus. A palavra "lunático" é usada uma vez no Novo Testamento (Mateus 17:15) para descrever o estado de alguém que estava possuído por demônio, mas em Mateus 4:24 é feita uma distinção entres aqueles possuídos por demônios e aqueles que eram lunáticos. Um estado mental desordenado podia ser causado por possessão demoníaca, mas tal condição também podia ocorrer na ausência de um demônio. Assim vemos que doenças mentais de vários tipos e de diferentes causas são reconhecidas na Palavra de Deus.

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Humor

Outra manifestação frequente de doença mental é a dos distúrbios de humor. Nesta categoria estão os bem conhecidos tipos de depressão e doença maníaco depressiva. A depressão é caracterizada por sentimentos contínuos de tristeza e vazio, um interesse marcadamente diminuído em todas as atividades, uma incapacidade de se concentrar, insônia, cansaço constante e um sentimento de inutilidade. O distúrbio maníaco-depressivo (ou bipolar) é caracterizado por períodos de depressão alternados a períodos de exaltação, devaneios, tremenda energia, diminuição na necessidade de sono e extrema extroversão e necessidade de conversação. Kay Redfield Jamison, uma professora da Universidade Johns Hopkins e uma autoridade internacional em doença maníaco-depressiva, conta sua própria experiência com o distúrbio. Segue uma descrição de como ela se sentia:

"Há um tipo particular de dor, exaltação, solidão e terror envolvido nesse tipo de loucura. Quando você está alto é algo tremendo. As ideias e sentimentos são rápidos e frequentes como estrelas cadentes, e você os segue até encontrar outros melhores e mais brilhantes. A timidez se vai, as palavras e gestos corretos de repente estão lá, o poder de cativar os outros uma certeza sentida. Interesses são encontrados em pessoas desinteressantes... Sentimentos de facilidade, intensidade, poder, bem-estar, onipotência financeira e euforia permeiam sua essência. Mas, em algum ponto, tudo isso muda. As ideias rápidas são rápidas demais, e são muitas; a clareza dá lugar à confusão opressiva. A memória se vai. O humor e a assimilação dos rostos dos amigos dão lugar ao medo e preocupação. Tudo o que antes se movia favoravelmente agora se volta para trás -- você se torna irritado, assustado, incontrolável e totalmente enredado nas mais sombrias cavernas da mente. Você nunca soube que essas cavernas estavam ali. E parece que não acaba nunca, pois a loucura esculpe sua própria realidade.

"E assim continua... O que fazer então, após os remédios, o psiquiatra, o desespero, a depressão e a overdose? Todos aqueles sentimentos incríveis... o que eu fiz? Por quê? E o mais assustador: quando vai acontecer de novo? Quais dos meus sentimentos são reais? Quais dos "eus" sou eu? Será o selvagem, impulsivo, caótico, enérgico e louco? Ou o tímido, retirado, desesperado, suicida, condenado e cansado? Provavelmente um pouco de ambos, com muita esperança de não ser nenhum deles."*

{* Jamison, Kay Redfield, An Unquiet Mind. (Alfred A. Knopf, New York, 1995), pg. 67-8}

Vimos aqui um caso no qual o comportamento neurótico pode ser acompanhado de episódios ocasionais de comportamento psicótico, de modo que a linha entre condições "lunáticas" e distúrbios comportamentais é às vezes difícil de distinguir.

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Ansiedade

Outra manifestação bem reconhecida de distúrbio comportamental é a dos distúrbios de ansiedade. Esta é uma das formas mais comuns de doença mental. Nessa categoria encontramos coisas como fobias, distúrbios de estresse e distúrbios que causam ataques de pânico. Algumas pessoas tem um distúrbio de ansiedade generalizado, no qual se preocupam o tempo todo com quase tudo. Como pode-se esperar, tais indivíduos têm (por muitos motivos) um alto grau de ansiedade, muitas vezes acompanhada por medos irracionais. Além disso, pela ansiedade intensa e muitas vezes incapacitante, podem experimentar sintomas físicos tais como palpitações no coração, sudorese, tremores, falta de ar e tontura. Distúrbios de ansiedade podem afetar tanto crianças como adultos, como mostra o exemplo a seguir:

"Anne-Marie (não é seu verdadeiro nome) era uma filha de 10 anos de idade, de uma família intacta e apoiadora, que foi descrita como 'ansiosa de nascimento'. Ela tinha sido retraída e tímida na pré-escola, mas se adaptou bem à 1ª série e começou a fazer amigos e a se dar bem na escola. Ela apresentou várias vezes dores abdominais crônicas e difusas que eram piores de manhã e nunca ocorriam à noite. Ela tinha perdido cerca de 20 dias de escola durante o ano anterior por causa da dor. Ela também evitava viagens de campo da escola, temendo um acidente com o ônibus. Seus pais relataram que ela tinha dificuldade em pegar no sono e frequentemente pedia que a tranquilizassem.

"Ela se preocupava que ela e os membros de sua família pudessem morrer. Ela era incapaz de dormir antes de um teste. Ela não conseguia tolerar que seus pais estivessem em outro andar da casa em que ela não estivesse, e ela verificava as portas e janelas à noite, temendo intrusos.

"Seu medo de ficar sozinha, necessidade de tranquilização constante, problemas com faltas na escola eram tanto frustrantes quanto perturbadores para seus pais.

"Ela não tinha experimentado quaisquer eventos traumáticos, embora ela reagisse fortemente às imagens do 11 de setembro de 2001 na televisão. Um de seus avós tinha morrido no ano interior. Uma tia materna tinha recentemente sido tratada com fluoxetina [uma droga antidepressiva] para depressão e era descrita como 'uma pessoa nervosa'.

"Anne-Marie tem sintomas típicos de um distúrbio de ansiedade infantil."*

{* Manassis, Katharina, M.D., F.R.C.P.©), Childhood Anxiety Disorders. (Canadian Family Physician, March, 2004), pg. 380 }

terça-feira, 25 de julho de 2017

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Personalidade

Nesta categoria reconhecemos primeiramente uma gama de problemas que podem ser chamados de distúrbios de personalidade. Todos temos traços comportamentais que são padrões duradouros de percepção, que se relacionam e reagem a nós mesmo e aos outros em uma ampla gama de contextos. Esses traços nos tornam indivíduos distintos e são conhecidos como nossa personalidade. Em alguns indivíduos certos traços tornam-se exagerados em tal extensão que passam a ter padrões de comportamento seriamente inflexíveis e limitados. Muitas vezes a inflexibilidade de personalidade e sua vulnerabilidade a estresses específicos resultam em verdadeiras dificuldades de adaptação social, levando a distúrbios significativos na vida individual. Alguns possuem uma personalidade dependente, na qual o indivíduo tem dificuldade de tomar decisões, iniciar projetos por conta própria, ou expressar desacordo. Tais pessoas fazem de tudo para obter a aprovação dos outros e são urgentes na busca por relacionamentos. Outros possuem um tipo de personalidade evasiva, não estando dispostos a se envolverem com coisa alguma a não ser algumas coisas que gostam. Tais pessoas se preocupam em ser criticadas e são inibidas em situações novas por se sentirem inadequadas. A personalidade antissocial não tem capacidade de formar relacionamentos adequados com os outros. Eles parecem insensíveis e autocentrados, desprovidos de um senso de responsabilidade, e são dados a prazeres imediatos. Eles muitas vezes não possuem capacidade de juízo próprio, mas ainda assim são inteligentes o bastante para planejar racionalizações que convençam a si mesmos que suas ações são razoáveis e justificadas. A personalidade obsessivo-compulsiva preocupa-se com ordem, perfeccionismo e controle interpessoal, ao custo de flexibilidade, abertura e eficiência. A descrição a seguir nos fornece um exemplo de uma personalidade obsessivo-compulsiva:
"A Sra. C., uma gerente de loja de 41 anos, foi fazer uma avaliação psicológica graças à insistência do gerente regional da rede de lojas para a qual trabalha. Ela falhou em entregar os últimos quatro relatórios periódicos em tempo, e sua loja tem uma das piores taxas de produtividade da rede, apesar de ela usualmente chegar cedo no trabalho e ficar até mais tarde do que qualquer outro gerente, e parecer estar ocupada em cada minuto do dia. A Sra. C trava frequentes batalhas com seus funcionários e tem a maior taxa de rotatividade de funcionários na rede. Quando confrontada com esses problemas, ela insiste que sua loja está sendo conduzida 'adequadamente' e de acordo com as regras -- diferente das outras lojas da rede, que estariam mantendo padrões de 'má qualidade'.

"É fácil identificar a fonte da dificuldade na loja. A Sra. C insiste que seus funcionários coloquem e arranjem as mercadorias em linhas requintadamente retas. Ela verifica uma vez, duas, três, quatro vezes todos os itens, e é essa a razão pela qual ela nunca consegue terminar seus relatórios periódicos a tempo. Ela microgerencia cada aspecto da operação da loja e, consequentemente, seus gerentes subordinados estão sempre pedindo transferência para outras lojas. Em vez de apreciarem a constante supervisão da Sra. C, seus gerentes acham isso irritante e demorado. Ela está constantemente elaborando gráficos, tabelas e diretrizes de funcionários. Ela gasta boa parte de seu tempo toda manhã construindo e elaborando listas de tarefas que nunca encontra tempo para completar.

"A Sra. C é casada há 15 anos e tem dois filhos adolescentes. Seu marido é carteiro. O Sr. C relatou ao terapeuta que antes da Sra. C começar a trabalhar na loja há 6 anos atrás eles tinham muitas brigas conjugais por causa da necessidade da Sra. C de supervisionar e dirigir cada aspecto de sua vida. Ela insistia em saber onde ele estava em cada momento e tinha tentado planejar todas as atividades de seu tempo livre. Ele disse que foi um grande alívio para ele quando ela começou a trabalhar na loja, tornando-se ocupada demais para prestar tanta atenção na vida dele. O Sr. C diz que é difícil para ele e os filhos convencerem sua esposa a tirar férias e que geralmente acaba não sendo muito divertido quando ela concorda em ir. A Sra. C planeja o itinerário e as atividades minuciosamente e insiste que todos devem participar do que ela agendou. Nada de espontâneo ou não planejado é permitido, e ela espera que todos passem o tempo 'produtivamente', mesmo quando de férias."*

{* Frances, Allen, M.D., and Ross, Ruth, M.A., DSM-IV Case Studies. (American Psychiatric Press, Washington, D.C., 1996), pg. 315-6 }

Distúrbios Psicóticos

Esquizofrenia e Outras Condições Psicóticas


Primeiramente, chegamos ao tipo mais sério de doença mental, abrangendo a esquizofrenia e outras condições psicóticas. Nesses casos, os indivíduos parecem não estar em contato com a realidade, uma vez que perderam a capacidade de diferenciar entre o que é real e o que é imaginário.

Doenças psicóticas são caracterizadas por comportamento e fala severamente perturbados, incluindo ilusões e alucinações (tais como ouvir vozes, ver coisas não existentes, etc.). Ocasionalmente episódios psicóticos podem ocorrer em outros distúrbios mentais, tais como distúrbios de humor. Sintomas similares podem também ser causados por abuso de substâncias, efeitos colaterais de remédios e condições médicas gerais. O autismo provavelmente também deveria ser incluído nessa categoria, por ser um distúrbio caracterizado por problemas de linguagem, comportamentos repetitivos e dificuldades com interação social. A esquizofrenia, no entanto, é sempre caracterizada pela psicose.

Essas pessoas são muitas vezes tão perturbadas em sua capacidade de pensar e julgar claramente que elas costumam não perceber que são doentes mentais. A seguir é apresentada uma descrição de um típico esquizofrênico paranoico:

"A. B., um médico de 38 anos de idade, foi internado em 1937  em um hospital público por distúrbio mental após sua prisão por perturbar a paz. Especificamente, ele tinha assustado seus vizinhos ao lançar objetos em pessoas imaginárias que, dizia ele, o estavam atormentando, batendo no ar com cordas e quebrando o vidro no apartamento em que ele e sua esposa moravam.

"No momento de sua internação no hospital, sua esposa descreveu seus traços de personalidade como segue: 'Ele sempre foi um pensador profundo. Ultimamente, no entanto, ele não tem conseguido se concentrar. Ele é bastante agressivo e é do tipo que insiste em impôr suas próprias ideias sobre todo mundo. Ele acha que todo o mundo tem que concordar com ele. Ele é teimoso e argumentativo. Essa característica foi até mesmo mencionada em seu anuário da faculdade. Ele é um pensador independente e é muito brilhante. Ele tinha grandes planos para o futuro. Ele era, antigamente, bem extrovertido até os últimos anos, quando começou a se recusar a se juntar a outras pessoas.'

"À medida que o distúrbio mental do paciente progredia, ele desenvolveu uma grande quantidade de ilusões. Ele afirmava que era "o elo entre os vivos e os mortos", que era um "médium universal", que um certo médico falava com ele por telepatia mental para lhe aumentar a força e habilidades em operações cirúrgicas. Ele acreditava que alguém se escondia em um baú em sua casa e então disparou várias balas no baú. Ele acusou seu irmão de espirrar hidrato de cloral nele desde o terceiro andar de sua casa. Então, ele se sentou atrás de uma porta fechada esperando por seu irmão e, ao ouvir um barulho, atirou pela porta. Ele deixou a barba crescer por que dizia que seu rosto estava sendo modificado de maneiras sutis por influências externas, acrescentando que, se usasse uma barba, sua  verdadeira identidade se tornaria conhecida. Após sua internação no hospital, ele muitas vezes passava longas horas em seu quarto, de onde podia-se ouvir  ele andando pelo chão, gemendo ou fazendo um barulho como de um cachorro, batendo sua cabeça com o pulso ou batendo na parede. Quando lhe perguntavam o motivo de seu comportamento, ele explicava que estava sofrendo torturas pois as pessoas abusavam de seus poderes de telepatia mental e estavam direcionando esses poderes para ele. Ele passava quase o dia inteiro em seu quarto quando, durante o quarto e quinto ano de sua residência no hospital, ouvia-se frequentemente ele gritando e proferindo ruídos que as enfermeiras descreviam  como parecendo o uivo de um lobo."*

{* Noyes, Arthur P., and Kolb, Lawrence C., Modern Clinical Psychiatry. (W. B. Saunders Co., Philadelphia, 1963), pg. 348-9 }

(A descrição acima é a de um paciente que teve de ser hospitalizado por um longo período de tempo, uma vez que as drogas psicotrópicas usadas atualmente para tratar sua condição ainda não existiam.)

sábado, 15 de julho de 2017

A Doença Mental

Como, então, definimos a doença mental? Não há, de fato, uma definição que englobe cada aspecto do assunto, pois estamos lidando com um assunto que não possui um escopo bem demarcado. Até certo ponto, nossa visão sobre doenças mentais é afetada pela cultura e pela sociedade em que vivemos. Além disso, assim como há uma variação no que é geralmente considerada saúde física normal, assim há uma variação no que é considerado um padrão normal de pensamento e comportamento. Todos nós, em algum ponto de nossas vidas, podemos experimentar alguns dos sintomas de pensamento desordenado, mas apenas se os sintomas vão além de um certo ponto é que a pessoa será considerada doente mental. Assim, definiremos a doença mental simplesmente como sendo qualquer padrão anormal de pensamento e sentimento que resulta em um distúrbio de comportamento e que, assim, afeta a capacidade individual de funcionar em seus relacionamentos com o próximo e/ou em seu trabalho.

Aqui é importante esclarecer nossa definição em relação ao que as Escrituras têm a dizer, pois a definição que sugeri é muito ampla. A Palavra de Deus usa a palavra "lunático" para descrever aqueles com distúrbios de pensamento e comportamento, e, como já vimos, tais indivíduos também são incluídos entre aqueles a quem o Senhor Jesus curou. É difícil saber até onde essa palavra se estende em descrever aqueles cujo comportamento é anormal, e que grau de distúrbio é abrangido por isso. Cito as Escrituras apenas para mostrar que o Senhor Jesus reconheceu ao menos alguns comportamentos anormais como doenças, e as curou como fazia com outras doenças. Podemos muito bem hesitar em colocar cada indivíduo com alguma anormalidade de pensamento ou sentimento nessa categoria e chamá-lo de lunático. Neste artigo discutiremos uma ampla variedade de distúrbios que possuem pelo menos algum componente de distúrbio de pensamento e/ou de comportamento. O leitor pode não ver todos eles como a manifestação de doença mental, mas simplesmente como a demonstração do que a Escritura chama de "a carne" -- nossa natureza pecaminosa. Como veremos, há, muitas vezes, uma mistura de ambos. Seja qual for a causa, sugiro que uma consideração de todas essas entidades, perante o Senhor, é apropriada para nosso assunto.

Ao lidarmos com esse assunto, olharemos para o que claramente é doença mental -- os indivíduos com comportamento assim chamado "psicótico". Esses que exibem tal comportamento não têm controle de si mesmos, e em grande medida estão fora de si com relação à realidade. Eles definitivamente se encaixariam na categoria de "lunáticos", como é mencionado nas Escrituras.

Discutiremos, também, o comportamento anormal no qual o indivíduo ainda tem noção da realidade e não está fora de controle. Esses distúrbios comportamentais são geralmente chamados de "neuroses", em contraposição à "psicose". Como veremos, há geralmente uma sobreposição entre ambas. Mais que isso, em ambos os casos há aspectos de seu comportamento nos quais o indivíduo não pode fazer nada, mas também há uma parte em que deve ser responsabilizado.

No início deste artigo mencionei que eu iria abordar o assunto na luz da Palavra de Deus. Espero que este seja o caso, e que as conclusões alcançadas, especialmente na esfera moral e espiritual, sejam mantidas com a mente de Deus como é revelada em Sua Palavra. No entanto, uma vez que o autor é um médico, e que procurou a assistência de outros médicos cristãos, haverão comentários ocasionais baseados nesse treinamento e experiência. Espero que isso seja útil "completar" a discussão sobre o assunto, mas ao dizer isso, percebo que o conhecimento médico está em constante mudança. Alguns dos comentários feitos nessa área podem ser superados por conhecimento melhor em algum ponto no futuro. Além disso, farei outros comentários, de vez em quando, que são baseados nas minhas próprias observações e experiência como indivíduo, não tanto como médico, mas como cristão. Tais comentários serão obviamente identificados pelo leitor, e, é claro, devem ser tomados como opiniões [ou juízos] pessoais, e não como tendo a autoridade das Escrituras.

Os distúrbios mentais podem ter múltiplas causas. Algumas podem ser primariamente orgânicas (causadas por mudanças físicas no cérebro), enquanto outras podem ter suas origens na alma e no espírito. Frequentemente ambas estão envolvidas, e, muitas vezes, tais causas estão interconectados de tal modo que pode ser de difícil separação. Há uma grande variedade de opiniões sobre o assunto, não apenas entre crentes, mas também no mundo em geral. Uma vez que o assunto não se presta à pesquisa científica do mesmo modo como as outras disciplinas médicas, algumas das ideias sobre a natureza e a causa da doença mental tende a se basear em teorias e conceitos em vez de evidência científica sólida. Muito do que é feito quanto ao tratamento tende a ser empírico (baseado na observação e experiência), e talvez esteja enquadrado e determinado, em alguma medida, pela cultura em que vivemos. Além disso, o campo da mente é muito inter-relacionado ao espiritual, e aqui estamos, definitivamente, em uma área onde as Escrituras, e não a ciência, deve ser a autoridade final. Esse princípio deverá ser mantido em mente enquanto lidamos com nosso assunto, e certamente nos levará de volta à Palavra de Deus, "viva, e que permanece para sempre" (1 Pedro 1:23). É muito reconfortante e assegurador saber que Deus nos deu tudo o que precisamos para viver uma vida piedosa neste mundo, enquanto reconhecemos que há aspectos da doença mental que estão além de nosso entendimento.

Não é o propósito deste artigo discutir em detalhes todos os variados tipos de doenças mentais que têm sido reconhecidas, ou abordar o assunto por meio da classificação usada pela profissão psiquiátrica. No entanto, uma vez que a doença mental se expressa em uma grande variedade de formas, será bom termos alguma ideia do escopo do assunto. Assim, algumas considerações sobre essas diferentes manifestações são necessárias antes de prosseguirmos. Os termos que usaremos serão os mesmos usados por aqueles que tratam as doenças mentais, pois esses termos são comumente reconhecidos e entendidos. Vejamos alguns exemplos de doenças mentais e distúrbios comportamentais.

As Doenças e as Curas na Bíblia

O que é então a doença mental? Creio que há uma base bíblica para o uso do termo.

Em Mateus 4:23-24, lemos:

"E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria; e traziam-lhe todos os que padeciam acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curava."


Aqui encontramos o Senhor Jesus curando todas as doenças e todas as fraquezas do corpo. Quando as Escrituras começam a se referir àqueles que estavam doentes, eles são agrupados em cinco diferentes categorias:

  • Havia aqueles que tinham várias doenças, e certamente estas incluíam coisas como infecções, câncer, inflamações de vários tipos e doenças decorrentes da idade.
  • Juntamente com a doença havia os que sofriam com dores que, é claro, incluíam a dor resultante de doenças tais como artrite, dores de cabeça ou câncer, mas podiam incluir também dores infligidas de fora do corpo. O pensamento de tormento ou tortura está incluído na palavra.
  • As pessoas também ficam doentes quando possuídas por um demônio, e, é claro, isto pode afetar tanto o corpo como a mente.
  • Paralíticos são mencionados, sendo aqueles que tinham perdido a capacidade de usar algumas partes do corpo, e assim eram incapazes de exercer normalmente suas funções.
  • A palavra "lunáticos" também está incluída na lista, indicando aqueles que tinham um estado de mente desordenado. A palavra no grego traz o pensamento de ser um "alucinado", ou louco, e é uma palavra genérica usada para aqueles que não estão em sã consciência. A mesma palavra é usada em Mateus 17:15 para descrever o garoto que se jogava no fogo ou na água. Neste caso, o comportamento lunático foi causado por um demônio. Tais indivíduos são colocados juntamente com os outros que tinham doenças e dores, e são categorizados como estando enfermos. O estado de ser um lunático era uma doença que o Senhor Jesus curou do mesmo modo como curou as outras doenças.

Muitas Perguntas

Seção 1

 

Ao viajar a várias partes do mundo e interagir com crentes de diferentes culturas, vejo que o assunto da doença mental aparece frequentemente. Muitos têm parentes e entes queridos que claramente precisam de ajuda nessa questão, e que estão perplexos sobre onde procurar tratamento. Muitas questões surgem, tais como:
  • Eles devem buscar ajuda de psiquiatras e outros tipos de conselheiros, ou é sempre uma questão espiritual?
  • Há algumas vezes um desequilíbrio químico que pode ser corrigido por medicação adequada, ou esta é uma ideia não comprovada?
  • Sabemos como as drogas que afetam o cérebro realmente funcionam? Existe lugar para o uso delas entre cristãos?
  • Quão responsável é o indivíduo por seu comportamento em casos de distúrbios mentais?
As respostas a perguntas como essas nem sempre estão prontamente disponíveis. Espera-se que sejamos capazes de abordar o assunto, percebendo que, como nas doenças físicas, assim também nas doenças mentais, há coisas que não podemos compreender totalmente. Contudo, contamos com Deus e Sua Palavra para obter respostas para nossas perguntas, pois em qualquer assunto moral e espiritual, Deus nos deu em Sua Palavra a luz que precisamos.

Em 2 Pedro 1:3 é dito que "Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade". Nossos corações precisam se apossar desse princípio tão importante. Podemos não conhecer ou entender tudo sobre doenças mentais, ou sobre muitos outros assuntos como este, mas Deus nos assegurou que "pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude" (2 Pedro 1:3), temos toda a luz que precisamos para viver uma vida piedosa neste mundo. Tendo em conta esta e outras passagens, estamos confiantes em olhar para a questão da doença mental na luz da Palavra de Deus, e buscaremos encontrar as respostas para algumas das questões que inevitavelmente surgem quando o assunto é apresentado. Podemos não encontrar respostas para todas as nossas perguntas, mas sabemos que Deus nos deu tudo o que precisamos saber para viver para Sua glória neste mundo.

Introdução


Doenças mentais é um assunto controverso, porém importante, pois afeta a todos nós, seja direta ou indiretamente. Em algum momento de nossas vidas provavelmente todos nós teremos a oportunidade de ter contato com a doença mental, e é claro que qualquer um de nós pode, ocasionalmente, experimentar alguns de seus sintomas, mesmo que não apresentemos manifestações totais da doença. Durante os últimos 50 anos, mais ou menos, houve muitas mudanças no modo como a doença mental é vista, especialmente no mundo ocidental. A proliferação das drogas psicotrópicas ocasionou uma vasta diferença no tratamento de transtornos mentais graves. Esses avanços no tratamento trouxeram a questão cada vez mais a público, e tornaram as pessoas mais dispostas a falar sobre o assunto. No mundo moderno definitivamente tem havido um notável aumento nos estresses e tensões em nossas vidas, e como resultado tais coisas como psicologia, tipos de aconselhamentos diversos, grupos de autoajuda e outras formas de terapia mental se multiplicaram. Tudo isto levanta perguntas nas mentes de muitos crentes. Por um lado eles se encontram, pelo menos em certa medida, como vítimas das mesmas forças e das mesmas desordens que são vistas no mundo em geral, mas por outro lado eles se veem diferentes dos incrédulos. Muitos estão perplexos e confusos, até mesmo assustados, pela tremenda quantidade de opções de tratamento, e muitos temem (muito justificadamente) que alguns desses tratamentos podem não apenas ser inúteis, como também prejudiciais.