domingo, 21 de janeiro de 2018

Medicação

Já aludimos ao uso de medicamentos em nossa discussão sobre o psiquiatra. Notamos que houve uma tremenda proliferação de drogas (remédios) psicotrópicas durante os últimos cinquenta anos. Vimos que, apesar de não entendermos totalmente o modo de ação da maior parte das drogas psicotrópicas, ainda assim eles fizeram uma grande diferença no tratamento da doença mental. Kay Redfield Jamison, uma autora com distúrbio bipolar de cujo livro já citamos anteriormente, faz a seguinte declaração sobre ela mesma e sua condição:
"Eu muitas vezes me perguntava se, dada a escolha, eu escolheria ter a doença maníaco-depressiva. Se o lítio não estivesse disponível para mim, ou não funcionasse para mim, a resposta seria um simples 'não' -- e seria uma resposta atormentada pelo terror. Mas o lítio funciona para mim, e, portanto, suponho que eu possa falar sobre essa questão."*
{* Jamison, Kay Redfield, An Unquiet Mind. (Alfred A. Knopf, New York, 1995), pg. 217}

Notamos que, antes do desenvolvimento das drogas psicotrópicas, a maioria dos pacientes com doença mental séria passavam sua vida em instituições, virtualmente prisioneiros de sua condição. A descoberta das drogas que podem ajudar os indivíduos a controlar seu comportamento têm sido um fator importante na habilitação dessas pessoas para viverem e exercerem, em geral, suas funções no mundo. 

Nos apressamos em acrescentar que as drogas não foram o único fator nessa mudança. Juntamente com o desenvolvimento das drogas psicotrópicas, houve uma atitude de mudança no que diz respeito à doença mental. Tais coisas como a apreciação dos efeitos regressivos das instituições, um aumento da consciência social, e o aumento da comunidade psiquiátrica, ajudaram a facilitar a integração do paciente doente mental de volta à sociedade. No entanto, continua claro que, sem o uso de drogas psicotrópicas, muitas dessas pessoas veriam ser impossível exercer suas funções fora de uma instituição por qualquer período de tempo.

Qual, então, deveria ser a atitude do crente no que diz respeito a tais medicamentos? Alguns sentem que, uma vez que o Senhor somente pode curar, e uma vez que Deus disse: "A Minha graça te basta", então deveríamos deixar de lado o uso de medicamentos, contando com o Senhor e Sua graça somente. Outros podem sentir que, uma vez que já tomaram medicamentos, eles pode confiar neles e não precisam se preocupar sobre qualquer possível dimensão espiritual em sua doença. Posso sugerir novamente que ambos os extremos estão errados?

No Antigo Testamento, quando o rei Ezequias estava seriamente doente, Deus enviou o profeta Isaías a ele com a mensagem: "Eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor" (2 Reis 20:5). Claramente, foi o poder do Senhor que realizou a cura, ainda que, ao mesmo tempo, Isaías dissera a Ezequias: "Tomai uma pasta de figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou" (2 Reis 20:7). Novamente, no Novo Testamento, Paulo pôde pedir a Timóteo: "Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades" (1 Timóteo 5:23).

Em ambos esses casos, é definitivamente o Senhor que está no controle de nosso corpos e nossas enfermidades, como evidenciado em Suas palavras a Ezequias através do profeta: "Eu te sararei". Do mesmo modo, em ambos os casos, foi dada instrução para usarem de meios disponíveis para tratar o problema. Assim, hoje, deveríamos confiar no Senhor e olharmos primeiramente para Ele para nossas doenças mentais, assim como físicas, para que finalmente Ele possa nos ajudar a descobrirmos as várias causas, e a razão pela qual Ele as permitiu. No entanto, não é errado usar esses remédios que Deus permitiu que o homem descobrisse, como vemos nos exemplos que mencionamos.

Há alguns queridos crentes que precisam de medicamento para manterem-se mentalmente "em equilíbrio", assim como um epilético precisa de medicamentos para evitar que tenha convulsões. Assim também, aqueles que se encontram em dificuldades sérias sem uma dose regular de uma droga psicotrópica que os ajude a exercer normalmente suas funções deveriam aceitá-la, e serem gratos de que elas lhe estão disponíveis. Não é um sinal de fraqueza ou de falta de espiritualidade maior tomar esses remédios do que é alguém com insuficiência cardíaca tomar seus digitálicos e diuréticos (pílula de água).

Por outro lado, sabedoria é necessária aqui, pois, às vezes, nós, como crentes, podemos usar a medicação como uma muleta, quando o que realmente é necessário é que lidemos com a raiz do problema. Certamente cada indivíduo e cada doença mental é diferente, e deve ser avaliada e tratada diante do Senhor, levando em consideração cada aspecto.

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