quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Pecado Que Permitimos em Nossa Vida -- Pecado Voluntário

Já vimos que todos nascemos membros de uma raça caída, e, como tais, somos sujeitos aos efeitos do pecado em nosso espírito, alma e corpo. Além disso, uma vez que o pecado entrou neste mundo temos também uma natureza pecaminosa que as Escrituras chamam de "a carne". As Escrituras usam essa expressão para descrever o "eu" pecaminoso do homem que não pode agradar a Deus (Isto também é explicado em mais detalhes na seção sobre "A Natureza do Homem"*). No Novo Testamento, especialmente nas epístolas de Paulo, essa expressão é usada para se referir à condição moral do homem sem Deus e aos princípios de vontade própria que governam as ações do homem natural. Quando permitimos que nossa natureza pecaminosa, "a carne", aja, ela pode certamente contribuir, e às vezes ser o fator principal, da doença mental. 

{* N. do T.: Não traduzida ainda, mas pode ser lida no texto original, das páginas 78 a 98: https://drive.google.com/file/d/0B-YRE-dLph2XX1IyUlhpYU43V0U/view?usp=sharing}

Quando permitimos o pecado em nossa vida, é algo imediatamente mais sério, pois traz em cena nossa responsabilidade perante Deus. Isto é visto claramente no caso de Nabucodonosor em Daniel 4, cujo estado mental foi permitido por Deus por causa de seu orgulho. Tal pecado é obviamente diferente da tendência à doença mental que é herdada, pois envolve o que as Escrituras chamam de "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1). Embora não exista dúvida de que a tendência a esses pecados que nos rodeiam é muitas vezes transmitida de família, ainda assim devemos traçar uma distinção entre o que é o resultado do pecado e o que é o próprio pecado. Pensamentos pecaminosos e comportamento ruim podem precipitar a doença mental, e aqui temos, definitivamente, um problema espiritual. Há, no entanto, encorajamento para lidar com isso, pois como crentes podemos conhecer a libertação do pecado pois o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Falaremos mais sobre esse assunto quando discutirmos o tratamento.

Por exemplo, raiva suprimida que é mantida em oculto no coração pode trazer a depressão, e a depressão não melhorará até que isso seja reconhecido e tratado. Muitas histórias sobre isso podem ser contadas. Um homem entrou no quarto de um amigo que havia caído várias vezes em depressão, de modo a precisar de hospitalização, e sem rodeios perguntou: "OK, do que você está com raiva desta vez?". E funcionou. O paciente desabafou e começou a se recuperar. Outro exemplo é dado por E. C. Hadley em seu livro "You Can Have a Happy Life" (em português, "Você Pode Ter uma Vida Feliz", não disponível em língua portuguesa). Ele comenta:
"Podemos não estar plenamente conscientes do fato de que o pecado e a vontade própria são a causa de nossos temores ansiosos. É tão fácil enganarmo-nos a nós mesmos e acreditarmos que alguém ou alguma coisa além de nós mesmos é o responsável. No entanto, nunca nos livraremos de nossos medos ou teremos qualquer paz real até admitirmos a verdade e acertarmos as contas com Deus. 
"Uma jovem, criada em um lar cristão, começou a fazer coisas que sua consciência condenava. Não querendo admiti-las e confessá-las a Deus, ela começou a convencer-se a si mesma primeiramente de que Deus não se importava, e depois de que não havia Deus. Por muitos anos ela afirmava ser ateia. Mas o pecado em sua vida gradualmente se desenvolveu em ansiedade e medo. 
"Ela finalmente sentiu como se estivesse perdendo a cabeça e acabou em um hospital psiquiátrico. Muitos remédios foram tentados, mas nenhum alívio veio até que ela encarou o fato de que ela estava tentando tirar Deus de sua vida. Uma vez que ela confessou seus pecados e rendeu-se a Deus, ela foi capaz de sair do hospital livre de suas ansiedades e medos, e com sua consciência limpa."
Às vezes tentamos culpar o mau comportamento a alguma causa física tal como uma anormalidade no cérebro. Um caso assim envolveu um proeminente político que estava atendendo a uma conferência de imprensa. Segue o relato do que aconteceu, escrito por alguém que o ouviu:
"Esse político que possuía uma campanha antidrogas foi um homem evasivo e que nunca assumiu suas culpas e responsabilidades através de seus dois mandatos. Embora ele tivesse enfrentado constantes encargos legais, nenhum deles foi bem sucedido. Desfalque, venda de favores políticos, uso de drogas -- ele sempre era acusado mas nunca declarado culpado.  Um dia ele foi flagrado no ato da compra e uso de drogas ilegais. Estava tudo gravado em uma fita. Como ele escaparia dessa vez? 
"Enquanto se movia em direção ao pódio, um repórter gritou: 'Por que você fez isso? Por que você mentiu por todos esses anos?'
Sua resposta foi imediatada: 'Eu não fiz isso', ele respondeu. 'Meu cérebro estava bagunçado. Foi meu cérebro que fez isso. Minha doença fez isso!'. Não havia qualquer sinal de remorso -- apenas indignação de que alguém tivesse feito tal pergunta"* 
{* Welch, Edward T., Blame It on the Brain. (Phillipsburg, NJ, P & R Publishing Co., 1998), pg. 13 }

Esse homem certamente não estava mentalmente doente no verdadeiro sentido da palavra, mas estava de fato inventando uma desculpa para seu comportamento pecaminoso dizendo que ele não era responsável pois supostamente seu cérebro estava bagunçado!

Todos estamos familiarizados com o bem conhecido caso de Judas Iscariotes, um discípulo do Senhor Jesus que O traiu por dinheiro. Quando o Senhor Jesus não usou Seu poder divino para escapar, mas sim permitiu-Se ser preso, registra-se que Judas devolveu o dinheiro e então cometeu suicídio. Sem dúvida ele lamentava o que tinha feito, mas sua tristeza era mais pela consequência do seu pecado do que pelo próprio pecado. As Escrituras nos dizem que "a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte" (2 Coríntios 7:10). O pobre Judas sentiu tanto remorso que ele "retirou-se e foi-se enforcar" (Mateus 27:5). Tal foi o terrível resultado do pecado que ele permitiu em sua vida! 

Até agora, mencionamos alguns exemplos de doença mental onde o pecado voluntário foi a causa primária do problema. No entanto, o pecado voluntário pode ser um sério fator na doença mental que tem sua origem primária no pecado como efeito da queda do homem. A pré-disposição à doença mental pode ser herdada, mas as manifestações externas de tais tendências podem ser o resultado do pecado voluntário na vida de alguém. Uma propensão à doença mental que, de outra forma, permaneceria latente (dormente) pode ser despertada pelo pecado voluntário. Episódios de doença mental são, às vezes, uma reação específica à ansiedade severa proveniente da incapacidade de lidar com as exigências da vida adulta. Tal dificuldade pode ter suas raízes em uma educação permissiva, onde houve uma falta da disciplina necessária para formar adequadamente o caráter do indivíduo. Um médico (crente) que tratou um grande número de estudantes universitários fez a seguinte observação: 
"Crianças que nunca foram condicionadas por algumas frustrações durante os primeiro quinze anos de vida não se tornam muito preparadas para lidar com as exigências da vida adulta sem experimentar um estresse incomum."*
{* McMillen, S. I., M.D., None of These Diseases. (Fleming H. Revell, Westwood, NJ, 1958), pg. 124}

O Dr. Douglas Kelly, psiquiatra chefe dos julgamentos de Nuremberg, afirmou que criamos "uma geração de crianças que não foram ensinadas à disciplina necessária para se dar bem neste mundo... Temos sido entusiásticos demais em nossa recusa em ensinar o controle para que não traumatizemos as crianças."* Se ele tivesse feito essa afirmação a mais de quinze anos atrás, o que ele diria hoje? As crianças que foram disciplinadas mentalmente e fisicamente para trabalhar, para aceitar as restrições em seus comportamentos, e para direcionar suas emoções e energias para fora em vez de para dentro, não desenvolverão tão facilmente a doença mental, mesmo que tenham a predisposição a ela por hereditariedade. Falaremos mais sobre o assunto quando considerarmos as circunstâncias e o efeito do pecado vindo de fora. 

{* Psychiatry at Work, (Time Magazine, July 18, 1955), pg. 55. }

Em nossa discussão sobre o escopo da doença mental mencionamos os distúrbios de personalidade, e como o pecado algumas vezes distorce a "composição" do indivíduo de modo que seus padrões de comportamento se desviam marcadamente dos demais. É triste dizer que esse efeito do pecado na personalidade de uma pessoa às vezes conduz ao pecado voluntário, no qual o indivíduo fica irritado por não ser aceito como uma pessoa normal. Em vez de admitir o problema e procurar ajuda para lidar com ele, a pessoa ataca os outros. Ela pode negar que tem um problema, escolhendo, em vez disso, considerar-se normal e os outros como anormais. Tais pessoas estão condenadas a levar uma vida muito infeliz até que encarem o problema, o admitam, e busquem a ajuda do Senhor. Em outros casos o indivíduo é geneticamente predisposto a sua estrutura de personalidade ruim, mas então sua vontade toma essa tendência e permite que aja em pecado aberto. Isto é particularmente verdadeiro no sério distúrbio às vezes chamado de personalidade anti-social ou "psicopática". Deixados por si mesmos, tais indivíduos muitas vezes acabam vivendo uma vida criminosa, a menos que a graça de Deus os alcance e os salve. 

Vícios e dependências químicas também fazem parte desse aspecto de doença mental e estão conectados a uma tendência herdada que a pessoa então permite aflorar até ao ponto em que se torna pecado. Uma vez que este é um assunto muito amplo, vamos reservá-lo para uma discussão mais aprofundada mais adiante neste livro.

A questão do pecado voluntário também nos traz a uma discussão sobre nossa responsabilidade moral na doença mental, o que veremos no próximo capítulo.

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