domingo, 18 de março de 2018

O "Eu" e a Personalidade

No entanto, o assunto é muito mais complicado até mesmo do que considerações tratadas podem indicar. Vimos que o homem é um ser tripartido composto de corpo, alma e espírito. Enquanto cada um é distinto do outro, sabemos que cada um se comunica com o outro, e cada um afeta o outro, seja positiva ou negativamente. A alma e o espírito devem operar e se expressar através do corpo, e o corpo não pode funcionar sem a alma e o espírito. Assim, as Escrituras nos dizem que "o corpo sem o espírito está morto" (Tiago 2:26). Assim como o corpo não pode fazer nada sem a alma e o espírito estarem nele, assim a alma e o espírito não podem se expressar neste mundo sem um corpo. Os três devem trabalhar juntos.

Mas como eles trabalham juntos? O que é que orquestra a união do espírito, alma e corpo de modo que possam funcionar de maneira integrada? Já observamos o versículo que nos diz que "[Ló] afligia todos os dias a sua alma justa" (2 Pedro 2:8). Em Provérbios, Salomão fala de alguém "que domina o seu espírito" (Provérbios 16:32, Almeida Atualizada). Paulo podia dizer aos crentes em Roma: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal" (Romanos 6:12). É evidente que há um "eu" consciente, aquela essência do indivíduo que influencia e dirige o espírito, alma e corpo, mas que não faz parte desses três. Todos os três -- espírito, alma e corpo -- são unidos sob uma personalidade, ainda que o "eu" esteja acima deles, e assim é mais do que a soma do espírito, alma e corpo. A seguinte excelente citação resume o assunto para nós, e delineia a diferença entre o "eu" consciente, o espírito, a alma e o corpo:
"Ademais, julgamos que as Escrituras distinguem entre 'personalidade' – o 'eu' consciente – e o espírito, a alma e o corpo, já que nem definitivamente, e muito menos exclusivamente, identifica a personalidade em algum dos três. Lemos que 'o espírito do profeta está sujeito ao profeta' (1 Co 14:32). Temos o verso no Velho Testamento que diz: 'Aquele que governa o seu espírito' (Pv 16:32). Em conexão com a alma, Davi disse: 'humilhava a minha alma' (Sl 35:13); 'Levanto a minha alma' (Sl 86:4). Salomão fala de um homem que destrói a sua alma e violenta a sua alma (Pv 6:32 e Pv 8:36). Em relação ao corpo, Paulo pôde dizer: 'subjugo o meu corpo' (l Co 9:27). Essas e muitas outras passagens parecidas poderiam mostrar que, no homem, há a união do material e do espiritual sob uma única personalidade, como disse alguém: 'Dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, observamos que todos, dentro de si, possuem uma autoridade central, dirigindo e controlando, por um lado, os movimentos e as operações de uma estrutura animal, e por outro, as faculdades e esforços de um espírito inteligente, ambos os quais encontram, nessa autoridade ou pessoa central, o seu ponto de unidade. Quanto isso pode ser desconhecido para nós'. A isso podemos acrescentar que, se a morte sobrevier, o 'eu' está identificado com aquilo que é imaterial – o espírito e a alma – e, quando ainda no corpo, seja agora ou no estado de ressurreição, o 'eu' está certamente identificado com o espírito, a alma e o corpo."*

{* Smith, Hamilton, "O Filho de Deus - Sua Deidade, Encarnação, e Humanidade". Disponível em https://pt.scribd.com/document/106757661/O-Filho-de-Deus-Sua-Deidade-Encarnacao-e-Humanidade}

Como o autor da citação acima diz, tudo isso está além da compreensão humana. Deve ser observado, no entanto, que na citação acima, o autor usa a palavra "personalidade" para descrever a essência do próprio indivíduo, não meramente os traços particulares que distinguem um indivíduo do outro. Somos lembrados do que a Palavra de Deus diz em Eclesiastes 11:5: "Assim como tu não sabes qual o caminho do vento [espírito], nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas". Observamos neste versículo que ambos o espírito e o corpo (ossos) são mencionados, mostrando-nos que realmente não sabemos como o espírito entra no corpo, ou mesmo como o próprio corpo é formado. O homem pode ter descoberto o DNA, mas como isso tudo funciona é ainda um mistério. Como não podemos entender o "caminho do espírito", e "nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida", assim não podemos entender exatamente como as partes físicas e não físicas do ser humano interagem umas com as outras.

Muitas questões surgem nesse ponto, e algumas delas não podem ser respondidas. Como essa coisa que chamamos de "vontade" energiza a alma e espírito, e como a alma e o espírito se comunicam com o cérebro (o corpo) de modo que os atos voluntários possam ser executados? Como o corpo influencia a alma e o espírito? O que é a dor, e por que a sentimos? Por que interpretamos um odor como sendo prazeroso e outro como sendo ruim? Tais questões podem ser interessantes, mas, novamente, estão definitivamente além de nossa compreensão.

Por causa da natureza complexa do homem, descobrimos que alguns aspectos da doença mental serão, do mesmo modo, impossíveis de serem explicados. A disrupção que o pecado introduziu afetou o homem em todas as partes de sua natureza, e resultou em distúrbios que envolvem todas as três partes de seu ser -- espírito, alma, e corpo. Enquanto podemos ser capazes de fazer algumas observações e traçar conclusões, estamos definitivamente em um domínio onde somente Deus pode compreender plenamente.

Ao mesmo tempo, não permitamos o que não podemos entender estragar e talvez obscurecer o que podemos compreender. Voltemos a lembrar que "Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade" (2 Pedro 1:3). Se, durante essa discussão, encontrarmos coisas que estão além de nosso entendimento, não sejamos desencorajados. Se Deus não nos disse algo, então podemos descansar assegurados de que não é necessário para a vida e piedade. Deus não escolheu satisfazer toda a nossa curiosidade, mas Ele nos deu o que é necessário para viver para Sua glória neste mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário